Vamos à 2ª Parte da Super Entrevista!

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Editor Entrevista:  Vamos à segunda parte da entrevista com a pergunta: Hiago, como é que um jovem de 19 anos escreve 20 livros em um período de 6 anos?, você teve ajuda moral e/ou financeira?

Hiago Rodrigues Reis de Queirós: Ajuda moral eu quase nunca tive porque meus colegas e eu éramos pobres, minha família sempre foi da classe D, e minha mãe até pouco tempo atrás era faxineira, por isso ser escritor era "querer ser chique" ou "filhinho de papai" para a opinião de todos, e dizer-me escritor para eles seria passar vergonha, mas quando comecei a estudar, era daqueles alunos problemáticos aos professores e sempre ficava de castigo na biblioteca. Um dia encontrei um romance legal: "Mãe", de Máximo Górki, e chorei ao fim do livro, lendo a Mãe do Pavel ser espancada naquela estação de trem. Ali, aos 9 anos, decidi que seria escritor, o que só aconteceu aos 13, justamente por falta de incentivo e porque só daí eu pude mostrar aos colegas que eu versava e contava boas histórias... daí passei a vender cada conto por 0,50 centavos, que eu juntava e fazia no fim do mês uns trinta contos encadernados e vendia cada um a 7 reais, durante o recreio. Os poemas eram sempre dados: dava poema para os professores, para as namoradas (que eu nunca tive, e só quis ter), até para as pessoas que me magoavam, pedindo que elas me pedissem perdão. Assim foi até os 13 anos, quando mostrei o Sangue Espirado para minha mãe, que o rasgou.

Editor Entrevista: caro(a) visitante: clique aqui para descobrir os motivos da mãe do Hiago ter rasgado o romance. E, por falar nesta obra, Hiago, você não se impressiona com as histórias que escreve? Já se perguntou se é normal a um rapaz de 16 anos, escrever, como o fez no Hotel da Miséria Humana, uma mãe com a cabeça aberta por uma explosão da panela de pressão, na frente do filho? Você recebe auxílio psicológico em suas histórias?

Hiago Rodrigues Reis de Queirós: Auxílio psicológico?, bem... tive uns ataques de nervos algumas vezes (que sempre foram diagnosticados - e muito superficialmente, como epilepsia), e que por saber que não sou epiléptico, não fui nem aos exames, mas para tranquilizar a família, fui sim ao psicólogo, algumas vezes, mas atesto, como o psicólogo atestou: estou dentro dos padrões e sou um artista, e que por isso sabe bem o que é arte e o que é vida, ou seja: não escrevo, de forma alguma, meu sofrimento, minhas experiências e nem nada disso diretamente nos meus livros, mas sim transformo tudo em arte letrificada, usando da mnha vivência para criar outras. E se elas sofrem é porque isso serve à história, embora eu admita que sou um idiota entusiasta dos extremos do existir: desde a mais cálida felicidade até o mais profundo sofrimento, eu amo os dois e com eles me divirto até quase levar as personagens à loucura, como fiz com esta mãe ou seu filho: Félix.

Editor Entrevista:  Falando um pouco mais sobre o escritor Hiago Rodrigues Reis de Queirós, você pode nos dizer os motivos deste nome tão extenso? é ainda excentricidade impressionista?, ou alguma afinidade com Nelson Rodrigues e Eça de Queirós?

Hiago Rodrigues Reis de Queirós: Tenho afinidade com os autores, não com seus nomes, e é engraçado vocês perguntarem sobre esta "excentricidade impressionista"  porque me dá a oportunidade de explicar este: "impressionista", dizendo que eu não sou nem narcisista e nem excêntrico, mas que me mostro ser apenas para "impressionar" as pessoas, como que pressionando o meu ego contra o delas e desta pressão poder tirar um pouco da essência que cada pessoa tem, mas que esconde com a pragmatia. Em suma: eu sufoco com meu ser para a pessoa pôr para fora todo o seu ser, até o que ela estava escondendo, mas não sou excêntrico não...  seria se meu comportamento fosse de maneira incosciente, o que não é. Já meu nome oficial é Hiago Rodrigues, da minha mãe: Elizabete Rodrigues. Mas deveria ser também "Reis", por causa do sobrenome do meu pai: Dirceu Donizete Reis, que não me registrou. Já o Queirós é em homenagem à minha bizavó materna: Maria das Mercês Queirós, que era esquizofrênica e louca de sair nua na rua dando pedrada nos transeuntes.

Editor Entrevista: Você disse em seu blog que morou algum tempo na rua quando criança. Acha que talvez seja este o motivo de nos romances; OS TR3S ERROS, As Cinzas da Fênix, Hotel da Miséria Humana, Olhares Em Eclipse, as personagens coadjuvantes e até principais serem mendigos?

Hiago Rodrigues Reis de Queirós: Como disse, aliás, escrevi acima: Tudo o que vivi está condensado em outras histórias, mas tudo é minha vivência, desde o mais bonito sonho até a mais cruel maldade, eu conheci e apalpei tudo, mas coloquei na história por conta de melhor escrevê-la, e não para ficar escrevendo como que uma "biografia disfarçada"... longe disso, pois se, nesses romances que vocês citaram aí, as histórias ficassem melhores sem mendigos, eu não os citaria, de forma alguma! Sou um escritor de ficção, e não de realidade... deixo isso para os escritores-jornalistas ou biógrafos.

Editor Entrevista: Seu livro de poesias: Aos Repiques da Caneta de Dores será lançado em Portugal, pela Corpos Editora, e nós e os leitores queremos saber se a obra chegará ao Brasil e se será publicada pelas regras do Acordo Ortográfico ou pelo "português brasileiro", que você tanto defendeu no artigo: Sobre o DesAcordo ortográfico?

Hiago Rodrigues Reis de Queirós: Os editores me disseram que a editora tem parceria com uma livraria chamada FNAC, que, segundo minhas fontes, tem filiais aqui, no Brasil. Talvez a obra chegue ao Brasil sim, dependerá do sucesso dele lá em Portugal, que lerá um livro com 30 poemas inéditos e escrito em "português brasileiro", tendo que ir procurar no dicionário o que é isso ou aquilo, aprendendo então um pouquinho mais da cultura brasileira.

Editor Entrevista:  Seu mais recente romance: Olhares Em Eclipse tem 494 páginas e 42 subdivisões, mas apenas 7 personagens principais. Hiago, você caracteriza este como seu mais trabalhoso livro?, é este o melhor romance, na sua opinião?

Hiago Rodrigues Reis de Queirós: Quando tive a idéia do Olhares Em Eclipse já sabia que seria um livro longo, mas não foi o mais trabalhoso não, pois neste eu sentava para escrever às 9 horas da manhã e levantava às 8 da noite, escrevendo de quinze a vinte e cinco páginas por dia. Difícil mesmo é escrever um livro de poemas: eu escrevo-os todos num caderno, depois passo a limpo, um por um, para assim reclassificá-los na ordem do livro... e ainda tenho que ficar inventando um nome diferente para cada poema... é muito trabalho! Já, para o meu gosto, o Hotel da Miséria Humana é o meu melhor romance, que eu escrevi quando voltei para a casa dos meus tios, em Ponta Grossa-PR, e pude me observar melhor, pois no fundo a história trata-sede um escritor que perdeu o valor da vida e que se mata após escrever o livro que o fez perder este tal valor... é um livro para escritores, e que só é para tal ao seu fim.

Editor Entrevista:  Quando você escreveu este livro já tinha em mente algo sobre o Manifesto Realtragista, ou só mesmo no dia do manifesto que a concepção foi montada?

Hiago Rodrigues Reis de Queirós: Na verdade o Realtragismo é o meu jeito de fazer literatura, e com o Manifesto eu só me delimitei como Realtragista, apresentando o que é ser ou não, e convidando os outros artistas a serem. No dia do Manifesto eu apenas mostrei para todos o que eu estava querendo ao escrever, somente.

(Querido visitante: não perca a 3ª parte da nossa entrevista com Hiago Rodrigues Reis de Queirós, que será publicada aqui mesmo, dia 20/06, às 22:00 hs.)


Confira abaixo um dos poemas do nosso entrevistado que estará no em seu próximo livro: Aos Repiques da Caneta de Dores, previsto de publicação em Portugal para até o fim do mês de junho.

Obrigado por sua visita, e até logo!

FALTA.


Nessa lágrima
rasgando meu rosto
falta você;
neste silêncio
devorando meus soluços
falta você;
nesta tristeza
refluxada em surdina,
nessa madrugada
apagada de mágoas;
nessa caminhada pela estrada
desilusiva da vida...
falta você
nestes braços desabraçados,
nestes lábios de dor rachados,
nestes olhos caídos... lagrimados...
falta você
na minha vida. 

Hiago Rodrigues Reis de Queirós - 2009